domingo, 28 de novembro de 2010

[leia] Texto de Taina Cardoso, finalista da Olimpíada de Língua Portuguesa

Quando o amor floresce de um Ipê

O sol já se punha no horizonte, chegava o crepúsculo do dia. Sentada em um dos bancos da praça, eu olhava o que restou da velha árvore - o Ipê Amarelo - sem acreditar que ela fora desmembrada da minha vida e da vida de outras tantas pessoas com tamanha violência. E, enquanto tentava aliviar a dor em minha alma flagelada e aprisionar o choro que ameaçava escapar, perdi-me em pensamentos... Analisava o lugar onde eu vivo.

De maneira especial, o bairro é mais bonito com o cair da noite. Ele se metamorfoseia. Dá á cidade de Natal o ar de cidade grande que nunca teve. As luzes dos faróis dos carros refletem a agitação do cotidiano nas pessoas que por ali circulam, transformando-o num coração pulsante, derramado-se em brilho e beleza. Fervilhando de vida.

Para mim, entretanto, toda essa beleza morrera naquele dia. Meu lugar preferido fora mutilado. A pequena Praça da Rua Ismael perdera seu tesouro: o Ipê. E ali, à minha frente, a praça gemia, chorava, sangrava, pedia socorro. Há algumas horas, perdera o seu coração. O assassino, munido de uma serra elétrica, cortara o ipê centenário e o levara dali. Não houve avisos. Ninguém estava preparado.

Ao meu lado, em um dos bancos órfãos, um casal de namorados fazia as pazes. Tive a impressão de que já os conhecia. Decerto já os vira antes.

De repente, lembrei-me deles: meses atrás, vira-os nessa mesma praça. Lembrei-me da garota sob a sombra da frondosa árvore lendo “A Moreninha”, enquanto o garoto a observava de perto. Parecia haver encantamento naquele olhar que o impulsionou a criar coragem, suspirar e falar à garota. Depois, delicadamente, colocara uma flor de ipê no cabelo dela, logo atrás da orelha. E olhou-a nos olhos, assim como Augusto olhara D. Carolina pela primeira vez.

Aquele olhar fora tão terno, tão mágico. Encantador. Muito mais encantador que o romance de Joaquim Manuel de Macedo que ela lia. A serenidade que se emanava deles, envolvera-me como uma aura angelical.
Voltei dos pensamentos e reencontrei os dois, agora, à sombra daquela tragédia. A menina tinha nas mãos um galho da árvore, que fora brutalmente arrancada, da qual pendia uma única flor.

- Vou plantá-la novamente – escutei-a falando – como um tributo ao começo, e agora ao recomeço também, do nosso amor.

Os dois sorriam um para o outro.

Nesse momento, foi como se os mais belos sonhos tivessem tomado forma. A forma mais pura que pode haver. Tomou a forma do Ipê Amarelo.

Aluna: Taiana Cardoso Novais – 1º ano “A”
Finalista da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro 2010
Orientação: Prof. Ladmires Carvalho
Escola Estadual Professor José Fernandes Machado – Natal - RN

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