[leia] Em Apodi fogo brota do chão
Nos últimos trinta dias, Bom está contando uma história verdadeira, mas seus clientes mais cativos não acreditam por motivos óbvios। "Aqui tá tão quente que tá saindo fogo do chão. Tá queimando tudo ali bem perto", conta o alegre comerciante aos clientes que caem na risada e continuam em suas refeições. O fato é que existe realmente fogo brotando do chão numa área de várzea na fazenda do agricultor conhecido por Bibiu, filho de João Carrasco. "Não sabemos os motivos", diz a agrônoma Ariana Carvalho, que fotografou o local e enviou a este repórter.
No local onde está surgindo os focos de incêndio no solo, durante o inverno fica alagado। Secou devido às poucas chuvas. Ariana Carvalho conta que no início começou surgindo uma fumaça clara e logo em seguida se formou tochas de fogo, deixando o solo cozido. Como os proprietários da área estavam pertos, o fogo não avançou muito na vegetação. Entretanto, o fenômeno voltou a acontecer durante a madrugada e queimou tudo que havia por perto, assustando os moradores.
Em mutirão, os moradores apagaram o fogo। No dia seguinte, no mesmo local, o fogo votou a brotar do solo. "Saiu uma fumacinha branca e logo em seguida o fogo subiu. Eu corri em casa, peguei a máquina fotográfica e registrei. Aí meus parentes chamaram os vizinhos e colocaram água no solo. Só que o fogo seguiu brotando do chão em outros locais próximos", conta a agrônoma Ariana Carvalho, que é parente dos proprietários da fazenda e mora em Mossoró.
Na comunidade de Melancias, que tem cerca de 350 famílias, todos sabem da história. Porém, quem passa pela comunidade, para no Restaurante do Bom e escuta a história do proprietário, tem motivos para desconfiar. Ontem, o filho de Bom, o ex-vereador Eliézio do Bom, disse, em tom de brincadeira, que o pai dele mente tanto para divertir os clientes no restaurante que suas mentiras estão se tornando realidade. "Meu pai é muito divertido e os clientes gostam das histórias dele, mas esta é verdadeira", confirma Eliézio do Bom.
Especialista acredita que seja combustão espontânea
Para tentar explicar o fenômeno, a reportagem do JORNAL DE FATO mostrou as fotografias do fogo brotando do chão ao geólogo Aníbal César Alves, da Universidade Federal do Rio Grande do Note (UFRN)। Cauteloso, o especialista disse que a princípio não era possível dá um diagnóstico preciso apenas observando fotografias, sem conhecer pessoalmente o local e sua história.
Entretanto, fez algumas considerações। "Como o local fica nas proximidades de Apodi, podemos supor que se encontre dentro da área sedimentar da Bacia Potiguar, o que leva a duas hipóteses preliminares para o fenômeno".
A primeira é de exsudação de gás natural। "Essa hipótese é pouco provável, porque este fenômeno já deveria ter sido registrado anteriormente na área. De qualquer forma, o gás proveniente de acumulações de petróleo tem uma composição complexa, sendo formado por metano, etano, propano e butano, enquanto o gás de origem biogênica (decomposição de vegetais) é composto basicamente por metano (CH4)", explica.
O especialista acredita que a hipótese mais provável é que seja um depósito de turfa em combustão espontânea। "Nesse caso, a combustão se daria pela fermentação da matéria orgânica (turfa), que atinge temperaturas elevadas. Qualquer fazendeiro sabe que não pode deixar um monte de estrume fermentar, porque a fermentação eleva muito a temperatura e o estrume entra em combustão espontânea (reage com o oxigênio). É por isso que eles ficam revirando o monte de estrume ou o espalham pelo terreno", explica o professor.
Aníbal César Salves disse que como se trata de um leito de rio, é possível que a matéria orgânica (folhas, caules e raízes vegetais) tenha se acumulado em alguns locais, propiciando a formação da turfa। O gás liberado pelo material é basicamente o metano (CH4), como já foi citado acima.
Ainda conforme o especialista, a turfa é o passo inicial para a formação de carvão mineral, que se forma após sofrer soterramento a centenas de metros de profundidade। "Na Índia, a combustão espontânea de depósitos de carvão atinge proporções gigantescas, fato este já amplamente divulgado em reportagens e documentários da National Geographic e Discovery Channel".
No caso, a combustão seria favorecida pela existência de fraturas no solo que permitem o contato do carvão com o oxigênio do ar atmosférico. "No caso de Apodi, como o material está muito raso, talvez as pequenas gretas formadas no leito do rio tenham propiciado o contato entre o oxigênio e a provável turfa", finaliza o geólogo pesquisador Aníbal César Alves.
Jornal de Fato - Cesar Santos e também foi destaque hoje no RN TV
1 Comentário:
Eu já estive presente num desses focos de foco na propriedade de Chico Paulo, no Sítio Cápua, em nosso municipio.
Tudo não passa de um acomulo de lixo orgânico depositado no fundo dos acudes quando estão secos.
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