[leia] Carta de Apodi: Uma Resposta

Do lado de cá, a vida até pouco não era pensada, só vivida. Ela pingava cotidiana, mansamente, com um dia seguido do outro, até que um deles era sucedido pela morte, o estágio final.

O trabalho aqui estava tão enraizado na necessidade da sobrevivência, que os excessos que ele impunha nunca foram notados, a saúde era sacudida de dores, a vida sempre foi mais breve. Mas sempre foi assim para todos, era uma realidade a ser aceita com a conformidade melancólica da pobreza.

Os sonhos nesta cidade eram escassos, eram como um delírio da natureza que geravam desejos vagos de rebeliões, todas elas no campo da ideologia, nunca práticas. Apodi sempre foi um simples deslocamento geográfico pequeno. Vista por mim do hemisfério norte, ela parecia cada vez mais minúscula. Tenho certeza que muitos compartilham dessa idéia.

Mais o que você vem fazendo pra mudar tais realidades? Nunca pergunte o que sua cidade pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por ela (peço desculpas a John F. Kennedy pelo uso grosseiro e leve mudança de sua frase).

Se alguém tem força para escrever uma carta com tanta indignação, por que não ter poder de ação? Por que não usa a inteligência (competência) para dar o pontapé inicial e começar mudança junto a todos os outros cidadãos apodienses, sem descriminação de opção sexual, cor (raça), opção política, religião ou modos de pensar? Vamos juntos levantar não as bandeiras verde, vermelha ou amarela, mas levantar a bandeira de todas as cores, das cores de um amanhã melhor.

Nesta cidade, nunca demorou muito para que a comunicação entre os habitantes ficasse confusa, nesses momentos o coração sempre ficou mais apertado. Os momentos são dois: o que precede e o que sucede a todos os pleitos, especialmente no âmbito municipal. Pare de resmungar, praguejar frouxo num engrolar que vai morrendo até o apagão. Pare de ter pensamentos miúdos como aqueles, que ficam nas cercanias dos bares, invisíveis como parte de uma paisagem. Com a capacidade que todos nós sabemos que você tem, esperamos manifestações de forma mais construtiva e não apenas simples questionamentos de gostos dubitáveis.

Temos que pensar em uma cidade visando o futuro, o que virá, e não cair nas armadilhas do passado. Não durma um sono anestésico até um despertar confuso. Se você acredita, que continue assim a partir de agora. Pense no coletivo, não de forma demagoga e torta. Mesmo que isso signifique ser uma gota no oceano. Lembre-se que o oceano seria menor se faltasse lhe uma gota. Faça a sua parte e estenda a mão para que mais alguém possa fazer o mesmo.

Se você leu esse texto até aqui, eu agradeço, se assim não o fez, peço desculpas por meus pensamentos mórbidos. Tenho certeza que esse texto insignificante não será lido em nenhum meio de comunicação por não se tratar de nenhuma manifestação partidária.

A primeira mudança é no que se refere à atitude. Como pode alguém que passou anos vivendo na sombra de um lado criticá-lo somente agora? Vamos usar o que cada um tem de melhor para beneficio de todos. Lembre-se que você também é responsável pelo desenvolvimento da sua cidade. Dedicação e trabalho são as palavras de ordem, ordem e progresso. Isso me lembra um pensamento chinês: um caminho de mil quilômetros começa com o primeiro passo. Muitos dão o primeiro passo, mas poucos completam os mil quilômetros.

BRUNO CORIOLANO,
Apodi-RN, Brasil.