[leia] 'Plantão globo' deixou cidade apavorada

A rádio, sem sombra de dúvidas, foi um instrumento essencial no êxito desses dois dias de intensos trabalhos, foram as emissoras de rádio que fizeram o elo entre os desabrigados, que a todo tempo ligavam para as emissoras falando ao vivo de sua situação, e a Defesa Civil, que permaneceu ligada às transmissões e com base nessas informações é que as providências estavam sendo direcionadas.

Mas uma atitude equivocada promoveu pânico e medo na população apodiense que acompanhava o desenrolar 'de ouvido ligado' ao seu rádio.

Vocês devem conhecer o toque do plantão da globo, que causa medo a qualquer um quando escuta, porque sabe que 'lá vem tragédia', pois foi esse o tema musical escolhido para transmitir as informações, e sempre que alguém ligava para falar de sua situação o toque era acionado, e algumas vezes se repetia por três ou quatro vezes antes da notícia ser informada. Isso tornou o problema ainda maior que o real e mexeu com os nervos de toda a cidade, que apavorada não entendia o que estava acontecendo. Se 1 toque já causa medo, imagine o dia inteiro, e o som sendo repetido várias vezes antes da notícia.

A situação no Vale do Apodi estava realmente difícil, mas não era desesperadora ao extremo, exceto alguns casos mais isolados. Todos os resgatados foram retirados de condições que poderiam ser consideradas normais (exceto pela condição de estarem ilhados, sem ter para onde ir). Segundo os bombeiros, nenhuma pessoa foi encontrada em cima de telhados, nenhuma criança estava em risco iminente de afogamento, nenhum idoso foi encontrado submergido ou em cima de suas casas. A maior dificuldade era conduzir os desabrigados até a terra, pois tinham que enfrentar correntezas de águas fortes.

A situação de pavor fez com que os ilhados se exaltassem em suas declarações por telefone, mas o profissionalismo daqueles que estavam transmitindo tinha que ser colocado em prática, sob o risco de causar pavor aos ouvintes e até mesmo aos próprios ilhados, que dependiam exclusivamente do radio para manter contato com o 'mundo fora d´água'. É nessas horas onde o amadorismo não tem espaço, e aqueles que se colocam para trabalhar devem colocar a emoção de lado e usar a razão. É o mesmo caso daqueles que queriam ajudar no resgate, mas sequer sabiam nadar, eles iriam colocar em risco a própria vida e a vida dos outros. 'Muito ajuda quem não atrapalha'.

Mas o momento amador durou apenas algumas horas, assim como também a tentativa de querer tirar proveito político duma situação difícil como essa, e no final todos estavam de mãos dadas, fazendo um trabalho belíssimo e digno de elogios, aplausos e congratulações.

O som do 'plantão globo' foi retirado e as informações passaram a ser filtradas e repassadas aos ouvintes com mais responsabilidade e credibilidade.

Para se ter noção do que de fato aconteceu, uma das lanchas teve o casco levemente danificado e foi preciso removê-la até a beira do rio para conserto, e naturalmente foi virada, e não é que o rádio noticiou que uma das lanchas havia virado... Sem falar na notícia de que a Barragem de Santa Cruz estava tremendo e que poderia rachar. Pânico geral na cidade inteira. Notícia falsa. Sem graça.

A verdade é que aprendemos muito com essa situação, e os erros foram corrigidos a tempo, e muito embora ainda haja muita gente ilhada, a situação está sendo contornada dentro do possível.
Até o momento nenhuma morte foi registrada, e a perca maior está nos bens materiais, nos imóveis perdidos, nos móveis inundados e nos animais que morreram. Várias casas ficaram completamente em baixo dágua, mas deu tempo para que os moradores evacuassem a área e fossem para regiões próximas mais altas.