[leia] Entrevista do Prefeito de Apodi aO mossoroense
"O governo federal tem tratado os municípios com uma perversidade nunca vista"
MÁRCIO COSTA
Editor do Regional
A entrevista deste domingo aborda o pensamento do prefeito de Apodi, José Pinheiro, com relação as particularidades do cenário político e social da cidade oestana. A entrevista segue na íntegra.
O Mossoroense - Como o senhor avalia o atual cenário político apodiense?
José Pinheiro - O cenário político em Apodi encontra-se totalmente indefinido. Os dois grupos que contam com lideranças maiores, o verde e o vermelho, continuam muito indecisos com relação aos nomes que poderão vir a ser prefeitos. Existem alguns nomes, mas somente na boca do povo. As lideranças ainda não sentaram para definir o rumo que deve ser tomado. Nem de um lado, nem do outro.
OM - Nós acompanhamos uma campanha em 2006 atípica, com a mistura do 'verde' e do 'vermelho'. Por que em Apodi esta mistura não ganhou solidez?
JP - A tradição dos dois blocos vive em clima de radicalismo muito sedimentado. Para mudar a maneira do povo ser levará muito tempo. Aqui, os pais começam a estimular os filhos desde pequenos a optarem por uma das cores. Isso vai se perpetuando na educação do povo. Por isso não teve como caminhar junto e não será fácil. Apesar de existirem pessoas que acreditem que esta seja a melhor opção, quando a idéia chega no povão acaba perdendo força e se torna complexa.
OM - O PMDB estadual enfrenta focos de crise em várias cidades do RN. Mossoró e Apodi são duas destas cidades. Como uma das lideranças mais tradicionais do partido no Estado, o senhor acredita que a pulverização está sendo motivada por algum fator específico?
JP - O deputado Henrique Alves me disse há cerca de um mês que as divergências não se limitam a Apodi e atingem vários outros municípios. O que se nota é que são fatos peculiares de cada município. O caso de Apodi, segundo Garibaldi, é diferente dos demais. Eles estão preocupados e me asseguraram que no mês de maio será definido o rumo da sigla em nosso município.
OM - Com o passar do tempo a sociedade apodiense tem acompanhado um gradual processo de aproximação do prefeito José Pinheiro da médica Solange Noronha. No início de março a presença dos dois numa festa em Caraúbas acabou gerando uma grande crise na oposição. Existe a possibilidade de Pinheiro e Solange fecharem uma parceria política futura?
JP - Em política nunca se deve dizer desta água não beberei. Dinarte Mariz dizia que a política é como as nuvens no céu e que a cada olhar o cenário encontra-se diferente. Diante da dinâmica da política não podemos prever o que acontecerá daqui para frente.
OM - Mas esta possibilidade de parceria é simpática ao prefeito José Pinheiro?
JP - Ela é uma colega, médica, com serviço relevante prestado a Apodi, como também tenho. Quem sabe o destino que iremos traçar daqui para a frente? Do lado de lá é pior do que o que acompanhamos no nosso grupo. Nós somos dois grupos e lá são quatro, com a mesma intenção, administrar Apodi.
OM - Nos últimos meses acompanhamos um movimento que luta para que uma comunidade rural de Apodi obtenha independência política e administrativa. O senhor acredita que a comunidade de Soledade consiga garantir sua emancipação política?
JP - A comunidade de Soledade não conta com estrutura para ser município. Esta idéia de se tornar independente conta com uma possibilidade muito remota. Para que uma comunidade se torne independente necessita de condições mínimas como delegacia, hospital, mercado público. Soledade não conta com esta estrutura e caso consiga a independência passaria a depender totalmente do município de origem. É preciso ver isso com muita cautela e responsabilidade. Criar um município só por criar não se apresenta como uma boa idéia. Eu não acredito nesta possibilidade imediata, apesar de saber que tudo pode acontecer.
OM - Numa recente reunião em Mossoró, o senhor apresentou um fato curioso, onde prefeitos da região estariam contraindo empréstimos no 'câmbio negro' para manter as administrações. Esta prática é muito comum?
JP - O que se comenta é que as prefeituras que não contam com rendas extras ao FPM estão passando por momentos difíceis. No desejo de servir à comunidade estariam se arriscando a marchar a um comportamento como esse que não é o correto. É um reflexo das dificuldades pelas quais passam as administrações públicas municipais no país, onde o governo federal tem tratado os municípios com uma perversidade nunca vista. Agora, para amenizar, o governo vem com a solução de ampliar o FPM em 1%, para passar a imagem de que solucionará o problema.
OM - Esta solução resolverá os problemas dos municípios?
JP - De jeito nenhum. Em Apodi, por exemplo, o aumento será de apenas R$ 11 mil, o que significa R$ 11 mil diante das inúmeras dificuldade que temos, principalmente com relação a parte de infra-estrutura?
OM - A cidade de Apodi disputa juntamente com Pau dos Ferros a possibilidade de instalação de um campus da Ufersa. Até onde vão as chances de Apodi canalizar estes investimentos ?
JP - Sabemos dos recursos que possuímos, encabeçados pela barragem de Santa Cruz que detém 600 milhões de metros cúbicos de água armazenada. Contamos com um vale e uma chapada riquíssimos. Pelas condições naturais, se levarmos em consideração o fato da Ufersa trabalhar o jovem para a formação voltada para a questão agrícola, Apodi detém todas as condições favoráveis à instalação deste núcleo.
OM - Quando será iniciada a articulação para a escolha do candidato que disputará as eleições de 2008?
JP - Com relação a próxima campanha podemos afirmar que diante das dificuldades que afetam o município não há a mínima possibilidade do assunto ser colocado em discussão este ano. Em 2007 não iremos tratar da sucessão em nenhuma circunstância. Vamos tocar as obras, atender a população nas diversas secretarias, procurando fazer o melhor. No próximo ano definiremos qual será o melhor caminho a seguir. O que há de certo é o fato de que todas as nossas decisões serão tomadas a partir do posicionamento que será apresentado pela cúpula estadual do PMDB no mês de maio.
OM - O que será necessário num pré-candidato para ter o seu nome homologado com o apoio do senhor?
JP - Acho que o candidato que me suceder terá que ter uma responsabilidade muito grande e um perfil de administrador melhor do que o meu. Sei que não sou dos melhores, mas tentei ser e fiz o que pude para garantir o desenvolvimento do município. O que tenho escutado nas ruas de Apodi é que o candidato seja um jovem. Mas precisa ser um jovem com os pés no chão em condições de tocar o desenvolvimento de Apodi. No contexto atual é difícil ver quem será essa pessoa. Mas vamos trabalhar para que esta pessoa seja identificada dentro do nosso grupo e possa assumir um posicionamento que atenda o pensamento da maioria.
MÁRCIO COSTA
Editor do Regional
A entrevista deste domingo aborda o pensamento do prefeito de Apodi, José Pinheiro, com relação as particularidades do cenário político e social da cidade oestana. A entrevista segue na íntegra.
O Mossoroense - Como o senhor avalia o atual cenário político apodiense?
José Pinheiro - O cenário político em Apodi encontra-se totalmente indefinido. Os dois grupos que contam com lideranças maiores, o verde e o vermelho, continuam muito indecisos com relação aos nomes que poderão vir a ser prefeitos. Existem alguns nomes, mas somente na boca do povo. As lideranças ainda não sentaram para definir o rumo que deve ser tomado. Nem de um lado, nem do outro.
OM - Nós acompanhamos uma campanha em 2006 atípica, com a mistura do 'verde' e do 'vermelho'. Por que em Apodi esta mistura não ganhou solidez?
JP - A tradição dos dois blocos vive em clima de radicalismo muito sedimentado. Para mudar a maneira do povo ser levará muito tempo. Aqui, os pais começam a estimular os filhos desde pequenos a optarem por uma das cores. Isso vai se perpetuando na educação do povo. Por isso não teve como caminhar junto e não será fácil. Apesar de existirem pessoas que acreditem que esta seja a melhor opção, quando a idéia chega no povão acaba perdendo força e se torna complexa.
OM - O PMDB estadual enfrenta focos de crise em várias cidades do RN. Mossoró e Apodi são duas destas cidades. Como uma das lideranças mais tradicionais do partido no Estado, o senhor acredita que a pulverização está sendo motivada por algum fator específico?
JP - O deputado Henrique Alves me disse há cerca de um mês que as divergências não se limitam a Apodi e atingem vários outros municípios. O que se nota é que são fatos peculiares de cada município. O caso de Apodi, segundo Garibaldi, é diferente dos demais. Eles estão preocupados e me asseguraram que no mês de maio será definido o rumo da sigla em nosso município.
OM - Com o passar do tempo a sociedade apodiense tem acompanhado um gradual processo de aproximação do prefeito José Pinheiro da médica Solange Noronha. No início de março a presença dos dois numa festa em Caraúbas acabou gerando uma grande crise na oposição. Existe a possibilidade de Pinheiro e Solange fecharem uma parceria política futura?
JP - Em política nunca se deve dizer desta água não beberei. Dinarte Mariz dizia que a política é como as nuvens no céu e que a cada olhar o cenário encontra-se diferente. Diante da dinâmica da política não podemos prever o que acontecerá daqui para frente.
OM - Mas esta possibilidade de parceria é simpática ao prefeito José Pinheiro?
JP - Ela é uma colega, médica, com serviço relevante prestado a Apodi, como também tenho. Quem sabe o destino que iremos traçar daqui para a frente? Do lado de lá é pior do que o que acompanhamos no nosso grupo. Nós somos dois grupos e lá são quatro, com a mesma intenção, administrar Apodi.
OM - Nos últimos meses acompanhamos um movimento que luta para que uma comunidade rural de Apodi obtenha independência política e administrativa. O senhor acredita que a comunidade de Soledade consiga garantir sua emancipação política?
JP - A comunidade de Soledade não conta com estrutura para ser município. Esta idéia de se tornar independente conta com uma possibilidade muito remota. Para que uma comunidade se torne independente necessita de condições mínimas como delegacia, hospital, mercado público. Soledade não conta com esta estrutura e caso consiga a independência passaria a depender totalmente do município de origem. É preciso ver isso com muita cautela e responsabilidade. Criar um município só por criar não se apresenta como uma boa idéia. Eu não acredito nesta possibilidade imediata, apesar de saber que tudo pode acontecer.
OM - Numa recente reunião em Mossoró, o senhor apresentou um fato curioso, onde prefeitos da região estariam contraindo empréstimos no 'câmbio negro' para manter as administrações. Esta prática é muito comum?
JP - O que se comenta é que as prefeituras que não contam com rendas extras ao FPM estão passando por momentos difíceis. No desejo de servir à comunidade estariam se arriscando a marchar a um comportamento como esse que não é o correto. É um reflexo das dificuldades pelas quais passam as administrações públicas municipais no país, onde o governo federal tem tratado os municípios com uma perversidade nunca vista. Agora, para amenizar, o governo vem com a solução de ampliar o FPM em 1%, para passar a imagem de que solucionará o problema.
OM - Esta solução resolverá os problemas dos municípios?
JP - De jeito nenhum. Em Apodi, por exemplo, o aumento será de apenas R$ 11 mil, o que significa R$ 11 mil diante das inúmeras dificuldade que temos, principalmente com relação a parte de infra-estrutura?
OM - A cidade de Apodi disputa juntamente com Pau dos Ferros a possibilidade de instalação de um campus da Ufersa. Até onde vão as chances de Apodi canalizar estes investimentos ?
JP - Sabemos dos recursos que possuímos, encabeçados pela barragem de Santa Cruz que detém 600 milhões de metros cúbicos de água armazenada. Contamos com um vale e uma chapada riquíssimos. Pelas condições naturais, se levarmos em consideração o fato da Ufersa trabalhar o jovem para a formação voltada para a questão agrícola, Apodi detém todas as condições favoráveis à instalação deste núcleo.
OM - Quando será iniciada a articulação para a escolha do candidato que disputará as eleições de 2008?
JP - Com relação a próxima campanha podemos afirmar que diante das dificuldades que afetam o município não há a mínima possibilidade do assunto ser colocado em discussão este ano. Em 2007 não iremos tratar da sucessão em nenhuma circunstância. Vamos tocar as obras, atender a população nas diversas secretarias, procurando fazer o melhor. No próximo ano definiremos qual será o melhor caminho a seguir. O que há de certo é o fato de que todas as nossas decisões serão tomadas a partir do posicionamento que será apresentado pela cúpula estadual do PMDB no mês de maio.
OM - O que será necessário num pré-candidato para ter o seu nome homologado com o apoio do senhor?
JP - Acho que o candidato que me suceder terá que ter uma responsabilidade muito grande e um perfil de administrador melhor do que o meu. Sei que não sou dos melhores, mas tentei ser e fiz o que pude para garantir o desenvolvimento do município. O que tenho escutado nas ruas de Apodi é que o candidato seja um jovem. Mas precisa ser um jovem com os pés no chão em condições de tocar o desenvolvimento de Apodi. No contexto atual é difícil ver quem será essa pessoa. Mas vamos trabalhar para que esta pessoa seja identificada dentro do nosso grupo e possa assumir um posicionamento que atenda o pensamento da maioria.
Seja o primeiro a comentar
Postar um comentário