domingo, 13 de maio de 2007

[leia] Thyago Marcedo entrevista Thaisa Galvão.

O amigo de blog e futuro jornalista Thyago Marcedo está com uma proposta nova em seu espaço virtual. Ele se propôs a semanalmente entrevistar alguma usando principalmente a net como ponto de comunicação para realizar as entrevistas.
E ele começa bem. Entrevista a mais famosa entre os blogueiros do RN: Thaisa Galvão, acompanhe:

Entrevista.Com Thaisa Galvão

Jornalista desde 1987, formada pela UFRN, a acariense Thaisa Galvão é a primeira entrevistada neste novo projeto. Thaisa, que hoje é editora geral do Jornal de Hoje, falou sobre seu Blog, sobre jornalismo e política.


“Me senti bastante injustiçada. Até porque sempre ouvi da alta cúpula da Cabugi, incluindo aí alguns com sobrenome Alves, que a TV Cabugi vivia dois momentos: antes e depois de mim.”

(Thaisa Galvão, sobre sua demissão da TV Cabugi).


Bom, começo com uma pergunta que está na essência da sua formação profissional. Como nasceu a paixão pelo Jornalismo?

Eu já tinha o jornalismo no meu sangue e não sabia, não conseguia identificar. Meu pai jurava que eu seria médica e eu achava que realizaria o sonho dele, daí as coisas se atrapalhavam na minha cabeça. Na escola, ainda no primário (era assim que falava né?) Eu fazia jornais, sozinha. Sempre gostei de escrever e quando criança, em Acari, criamos um circo. Era um grupo de umas dez crianças e eu era a responsável por escrever uns dramas que a gente apresentava no final. Criava o tema e desenvolvia.


Hoje, como costumam dizer por ai, você ‘respira’ Jornalismo. Em algum momento da sua vida isso atrapalhou na relação com a família ou amigos?

Eu sempre tento conciliar. Sinto que atrapalha um pouco, não na relação do casamento [Thaisa é casada com Paulo Henrique Braga], pois meu marido entende e me dá muita força. Mas na relação com a minha filha [Maria Fernanda], que só tem 4 anos e sente necessidade de estar bem próxima de mim. Às vezes me desligo, principalmente do blog, pra dar atenção a ela. Também sinto necessidade de estar muito próxima dela pra não deixar o tempo passar e eu sentir que perdi muita coisa em relação ao desenvolvimento dela.


E o Jornalismo Potiguar. Você ainda acredita nele?

Sempre acreditei. Faço parte dele. Tem muita gente talentosa e séria no nosso mercado. Acredito nos nomes novos que vão surgindo.


Você foi demitida da TV Cabugi, depois de vários anos na casa, por ajudar Mônica Silveira em uma reportagem para o Jornal Nacional que mostrava detalhes da privatização da Cosern. Isso é verdade?

Não foi bem assim. Fui demitida depois de 10 anos e meio na TV. O Brasil vivia um período de muitas CPIs. Em Brasília, pelo menos umas 5 estavam em andamento. E aqui no RN, a Assembléia Legislativa instalou a CPI da Cosern. Claro que um governador sendo investigado é notícia de interesse do mundo né? Eu era editora de rede, a produção do Jornal Nacional me perguntou sobre a CPI e eu confirmei que havia. Eles pediram uma matéria e eu falei que precisaria consultar a direção, visto que o governador Garibaldi Filho era também um dos donos da TV Cabugi.
Por burrice da direção (não vejo de outra forma) eles disseram que a gente não faria a matéria, achando que a TV Globo não teria condições de fazê-la. Aí a produção me avisou que estaria mandando uma equipe de Recife. Falei que mandasse a equipe completa, inclusive com produtor, porque a gente não iria colaborar em nada. Eles mandaram, passaram quase uma semana viajando pelo interior, comprovando irregularidades e botaram no ar do jeito que quiseram. Inclusive com uma fala do governador gaguejando. Quando falo que a atitude da direção da TV foi burra, é porque se a gente tivesse feito a matéria, a própria direção teria dado um direcionamento mais leve, não teria botado uma fala ruim de Garibaldi...
Enquanto a matéria estava sendo feita, fui demitida. O superintendente teve coragem de dizer na minha cara que "a Globo" teria dito a ele que eu tinha feito tudo. Uma mentira deslavada que eu desfiz com a direção da própria Globo.


Como se sentiu nesse momento?

Me senti bastante injustiçada. Até porque sempre ouvi da alta cúpula da Cabugi, incluindo aí alguns com sobrenome Alves, que a TV Cabugi vivia dois momentos: antes e depois de mim. (porque fui eu que criei a editoria de rede em contato direto com a direção de jornalismo no Rio e lutava pra botar matérias no ar, conseguindo em 90% dos casos). Aí de repente deixaram de acreditar em mim... Depois conversei com o cara que era o segundo do jornalismo da Globo, e ele me disse que se a Globo tivesse algum poder administrativo sobre afiliadas, toda a direção da Cabugi teria que ser afastada, pelo fato de tentar esconder uma notícia importante. Ele se ofereceu pra me colocar, ou na Globo Rio ou São Paulo, mas eu estava recém-casada, iria atrapalhar a minha vida. Como sempre mantive boa relação com o pessoal de redação da Globo - com alguns mantenho até hoje - a minha demissão causou revolta. E em vez de botarem uma matéria no ar, botaram duas. Foram dois dias seguidos de porrada, nunca respondidas nem desmentidas.

A política teve influência direta nesse caso?

Totalmente. Mas a política foi mal administrada nesse caso.


Atualmente, devido ao Blog da Thaisa Galvão, você é uma das mais prestigiadas jornalista política do estado. Qual a sua avaliação da nossa política? Não acho que seja prestígio não. Eu corro atrás e as pessoas me atendem, como fazem com qualquer jornalista sério que esteja fazendo um trabalho legal. Acho que a nossa política ainda precisa avançar para ter a credibilidade da população. A maioria dos políticos - isso em todo o Brasil - escolhe a política como forma de ganhar dinheiro; faz da política a profissão. E o político profissional tem muito a ganhar e pouco a colaborar. Acho que temos políticos respeitados, que entendem que a política é um meio para chegar ao desenvolvimento, ao crescimento. Mas a coisa ta tão desacreditada, que os bons acabam se misturando aos maus políticos. Mas eu tenho esperança, sou uma eterna otimista e gosto de acreditar nas pessoas.

Falando em blog, como surgiu a idéia de criar um?

Sempre tive acesso a muitas informações; me relaciono com muita gente e fico sabendo de muita coisa. E sempre passava pra colunistas, pra editores, tentava usar como pauta, só que nem sempre essas notícias que você sabe, são publicadas; e quando são, nem sempre são da forma como você havia imaginado. Então o blog foi a solução. Digo o que eu sei do jeito que eu acho que devo
dizer. No dia 7 de junho o blog completa um ano no ar. Estou com um novo
modelo pronto e em breve estará em funcionamento.

Como é sua rotina? Já que você desenvolve um trabalho On-line, propriamente dito, em seu Blog.

Passo a manhã no Jornal de Hoje, onde sou editora geral. Dependendo do ritmo do dia, acrescento alguma notícia ao blog. Passo a tarde em outras funções, sempre em contato com pessoas da política, e de olho no primeiro computador que me aparece. E à noite, em casa, dou uma geral nos meus e-mails, junto tudo e dou uma carga reforçada no blog.... Pra amanhecer o dia cheio de novidades.


Você trabalha e já trabalhou em diversas Assessorias de Imprensa. Esta atividade contribui para a quantidade de fontes que a ajudam a fazer o Blog da Thaisa Galvão?

Contribui mas não é fundamental. Até porque a gente não pode se limitar àquele universo. O blog tem que ser muito diversificado, não dá pra criar panelinha, senão os leitores vão embora.


O seu Blog alcançou a marca média de 2.200 acessos diários. Número respeitável de leitores. A que se deve o sucesso?

Quando comecei, era período pré-campanha, rapidinho o número de acessos alcançou 3 mil. Depois passou pra 5, 7, 8... e no último mês de campanha, no segundo turno das eleições, tinha uma média diária de 14 mil acessos. O povo gosta de política mesmo. Agora, sem campanha, a média é essa aí... às vezes chega a 3 mil. Isso se deve à seriedade com que faço esse trabalho. Procuro dar os dois lados da notícia, falar dos dois lados da política... Muita gente não entende, me rotula, mas notícia nem sempre agrada a todo mundo. O que você escreve, certamente vai agradar e desagradar. Isso faz parte.


Sabemos que junto com a internet nasceu a possibilidade de democratização da comunicação. Na realidade brasileira e potiguar, você acredita nesse poder?

Acredito, mas acho que essa democratização não fiscalizada, acaba levando o jornalismo ao descrédito. Qualquer pessoa pode fazer um blog e dizer que é jornalista. Acho que os leitores identificam, mas não evitam que isso aconteça.


Pra finalizar. Você poderia se definir em uma palavra?

Obstinada.


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